A aprendizagem como escolha
Recentemente tive acesso a uma pesquisa realizada por um dos clientes corporativos atendidos pela Devir que, desde já, me desculpo por não divulgar - por razões óbvias.
O material me fez refletir sobre um aspecto muito interessante: o que nos move na escolha por um curso ou formação? O que nos faz decidir por priorizar o estudo e, com isso, abrir mão de outras atividades ou mesmo do ócio regenerativo?
Na conclusão dessa pesquisa, um grupo de brasileiros que busca formação para atualizar-se ou consolidar-se na carreira escolhe um curso projetando o seu futuro e não pensando no momento presente, no aqui e no agora. Ou seja, na função que exerce em seu trabalho.
Em meu primeiro artigo, trouxe o caráter estratégico da educação e da nossa real necessidade em construir a autonomia por meio dela. Esse meu lado que aposta as fichas no sujeito e em sua capacidade de escolher e decidir por si (e que carece de informações de suporte, mas não que decidam por ele) ficou bastante feliz com tal descoberta.
Bora lá pensar um pouco mais sobre o que nos faz escolher, decidir e por que isso é tão importante para a nossa educação? Notem que até agora me refiro à educação como um processo continuado de geração de repertório do indivíduo.
O que o Marketing tem a nos dizer sobre o processo de decisão de compra?
É natural que muitos fatores entrem em cena e influenciem em uma decisão tão importante como a escolha de um curso. O ponto é: como esse processo pode se tornar cada vez mais consciente, estratégico e envolver o real compromisso com a nossa formação?
Uma coisa parece fato, quando tenho mais clareza e consciência sobre as minhas escolhas, tomo decisões mais acertadas e duradouras. Em contrapartida, quando ajo de modo impulsivo e desatento, corro um risco maior de me frustrar, desperdiçar tempo, dinheiro e até de me arrepender.
Philip Kotler e Gary Armstrong irão nos alertar para a dificuldade em adentrarmos a “caixa preta” do consumidor e entendermos com clareza as características individuais e o seu processo de decisão de compra.
Mas, ainda que seja mais difícil avaliarmos os porquês da compra - e, portanto, mais fácil obtermos informações sobre o quê, onde e quando as pessoas compram -, a boa notícia é que sim, há um meio de aprofundar a razão pela qual os clientes compram.
A coleta, a análise de dados e as pesquisas junto ao mercado consumidor são excelentes caminhos para isso. Por esse motivo, se tornaram fundamentais em um mercado muito competitivo e inserido em uma sociedade supercomunicativa[1] como a nossa.
Se pensarmos bem sobre como decidimos nos desenvolver, encontraremos fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos influenciando o nosso processo decisório. Esses fatores mobilizam desejos e necessidades que consideramos nas escolhas que fazemos.
O que nos motiva a aprender?
Em minha trajetória na educação superior e executiva, me deparo com frequência com as motivações de profissionais em torno do processo de desenvolvimento. E esse é um dos passos fundamentais para desenharmos cursos, programas e experiências de aprendizagem valiosas para as instituições (proposta de valor), mas sobretudo para seus prospects/alunos.
É importante notar que, via de regra, associamos o desenvolvimento profissional à carreira. Raras vezes temos a oportunidade de pensar o nosso desenvolvimento (e por que não, na aprendizagem) em seus aspectos mais amplos. Isto é, aqueles relacionados à vida. Afinal, a exceção de algumas áreas e competências estritamente técnicas, todas as demais são mobilizadas em nossa vida prática e cotidiana.
Vamos pensar um pouco nessa direção?
“Como obtenho clareza em meus propósitos?” “Como defino objetivos, metas e resultados?” “Como me planejo para alcançá-los?” “Como executo as ações e me mantenho firme e diligente para atingi-las?”
Bom, sejam as competências e habilidades relacionadas à gestão ou aos aspectos comportamentais, um enorme rol de skills são experimentadas, aprimoradas e refinadas em nosso cotidiano e não apenas quando entramos no trabalho - seja pela porta ou pela ferramenta de videoconferência.
Nesse raciocínio, o que eu quero dizer é que aproveitamos melhor aquilo que faz sentido e gera valor para a nossa vida; aquilo que podemos perceber o impacto ou benefício no dia a dia. Não à toa nos inclinamos a cursos de caráter prático e aplicado.
Seguindo essa trilha, vale se perguntar, então, quais são as minhas deficiências e, dentre elas, quais desejo superar? E mais: como tais deficiências impactam o meu trabalho e a minha vida, o que eu realmente quero estudar e desenvolver, o que eu irei priorizar, como poderei focar meus estudos, o que espero conquistar e em que prazo etc.
Uma visão mais clara, compromissada e consciente nos orienta na gestão, não apenas da nossa aprendizagem e da nossa carreira, mas também da intencionalidade que nos transforma por meio da educação e do conhecimento. Intencionalidade essa que traz foco para priorizar o que almejamos e como desejamos ampliar o nosso repertório.
Quanto vale a escolha?
Com bastante frequência em minhas atividades profissionais vejo fatores de decisão para a escolha da formação como a) a necessidade do desenvolvimento de novas competências ou habilidades para o trabalho, b) o desejo por mudar de carreira, c) a pressão do mercado pela atualização permanente, d) interesse pela área ou pelo curso em alta no mercado, e) a busca por ampliar network e conectar-se mais com o mercado e com a área de atuação, f) um desejo antigo por estudar em um determinado lugar, g) a facilidade de estudar em um novo formato ou metodologia, h) o peso de um determinado certificado para o mercado ou para a profissão.
Isso quer dizer que são essas razões que, em grande medida, fazem parte do processo decisório dos prospects ou candidatos. Ocorre que nem sempre há clareza e um pouco mais de reflexão na forma como decidimos. E certamente essa não é uma característica só minha ou sua. O processo de tomada de decisão nunca é simples ou isento de vieses.
E por que é importante pensarmos sobre isso? Porque, além dos bônus das nossas decisões, temos os ônus; o que temos de abrir mão, as noites mal dormidas, as viagens de lazer postergadas, o prazer da companhia dos amigos e familiares e um sem número de outras razões.
A isso, acrescenta-se o fato de que algumas decisões geram desconfortos como os relatados, nem sempre se sustentam no tempo ou ainda não refletem as expectativas projetadas.
No caso de nossas experiências de aprendizagem, muitas vezes há problemas nos produtos e fatores imprevistos que impactam em nossos planos e trazem incompatibilidades para a nossa rotina.
Mas, para além disso, há também um tanto de avaliação precipitada e processos decisórios mal conduzidos por nós levando a escolhas equivocadas que envolvem tempo e dinheiro, concorda?
E aí, o que fazer?
1º Ouça e confie em você. Investigue-se, procure lá no fundo o que deseja, por que deseja e o que espera alcançar.
2º Faça uma pesquisa orgânica para chegar às instituições e aos programas que deseja. Além de acessar informações valiosas, você poderá comparar os atributos, diferenciais e benefícios oferecidos por cada uma delas.
Considere a modalidade (presencial, blended ou híbrido e online), o formato do curso e procure saber como ele funcionará. Assim, você consegue avaliar a melhor maneira de integrá-lo à sua rotina.
3º Caso não conheça bem a área, faça uma pesquisa ou converse com um profissional experiente. Procure entender como está o mercado e suas tendências, a oferta de vagas e a média de remuneração das posições disponíveis.
4º Avalie as instituições e procure identificar o grau de experiência, credibilidade e autoridade na área. Identificar pesquisas e eventos relevantes e analisar o portfólio de cursos em oferta também são boas referências sobre a autoridade na temática.
5º Avalie o custo (ou melhor, o investimento) x benefício, procurando definir um tempo para o retorno.
6º Retorne às respostas do item 1 e veja se o curso realmente corresponde ao que busca.
Por fim, trace o seu plano de estudos como forma de selar o compromisso consigo e com a sua formação. Além da qualidade já avaliada por você, a sua performance certamente será o diferencial.
Sabemos que um bom processo de decisão valoriza múltiplas perspectivas, conforme já dissemos anteriormente. Mas há outros componentes importantes nesse processo: o quanto aprendemos com ele e a presença da própria intuição (podemos tratar deles em outro momento).
Se, por um lado, podemos ampliar as nossas possibilidades pelas escolhas que fazemos, por outro, para avançarmos ainda mais, precisamos deixar a acomodação de lado e recrutar a nossa clareza, consciência (ou sabedoria) e a nossa experiência para a arena das decisões que tomamos.
Enjoy!
[1] Conceito apresentado pelos autores Al Ries e Jack Trout no livro Posicionamento: a batalha por sua mente (M. Books, 2009), que em função do imenso assédio da publicidade sobre as pessoas, nos advertem para a importância de uma comunicação que vá ao encontro aos conhecimentos e experiências dos clientes por meio de mensagens assertivas e supersimplificadas.